sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

cinema, autonomia, diálogo e escrita

 


Ainda no modo de Filosofia com Cinema para Crianças (FcCpC) em jardim de infância, crianças de quatro e cinco anos experimentam a sua primeira reunião/diálogo filosófico de forma autónoma. O educador ajuda a preparar os dispositivos básicos, como as mesas, as cadeiras, e sugere o registo das perguntas que surgirem (escreverem as perguntas, da forma que quiserem, e souberem). O registo permite não só aquilo que importa à comunicação, à escrita e à interpretação, como é também um processo de pensamento gráfico e artístico. É ainda um espaço de reflexão-criação (ouvir e escrever, ouvir e desenhar, ouvir e comunicar), que envolve complexos mecanismos de elaboração. Numa fase em que os momentos de diálogo em comunidade de investigação filosófica despontam no quotidiano em sala, há instantes que parecem ganhar vida própria. As perguntas sucedem-se, irrompem famintas de vez e de voz. As vozes elevam-se, sedentas de som e de ser. A escrita fica, e requer tradução, pois da mesma forma que as crianças não sabem ler o que os adultos escrevem, os adultos também não sabem ler o que as crianças escrevem.

Filosofia com Cinema para Crianças (FcCpC)

 

Pela mão do CINANIMA, o cinema de animação veio ao jardim de infãncia. Silenciou-se, viu-se, ouviu-se, perguntou-se, falou-se, escutou-se, dançou-se. O cinema também se dança. Sozinhos, a pares, ao colo, no chão. As crianças estranharam-se, e depois questionaram-se, sobre a realidade e a fantasia nos filmes:

Porque é que os fósforos jogam à bola? (D, 5 anos)

Porque havia lá médicos? (H, 4 anos)

Só os fósforos a fingir é que jogam à bola! (RC, 5 anos)

Também podiam ser cotonetes a jogar à bola! (G, 5 anos)

E rimos, quando o caracol apagou a vela! E pediram para ver outra e outra vez, para rir outra e outra vez. Quando as crianças começam a rir pelos olhos, riem e vivem com o corpo todo, entre os seus tempos infantil e biológico.

“Podemos ver mais um? Ou já é hora do lanche?” (T, 5 anos)

Falámos sobre coisas pequenas e grandes, tesouros diversos: “O meu tesouro era um pneu voador dourado de chocolate, para dar à minha mãe!” (P, 4 anos).

Por vezes levantamos a mão, mas esquecemos o que queríamos perguntar: “Vou pensar outra vez.” (BL, 5 anos)

Entre diálogos em português e ucraniano (bom dia, até amanhã, obrigado, amarelo, azul, verde, vermelho, preto, branco, cão, leão, pão, água.- cortesia da O, 5 anos e da E, 4 anos), dançámos música mexicana, enquanto comíamos castanhas cozidas e assadas. E dançámos, outra e outra vez, sozinhos, a pares, no chão e ao colo (sim, gostamos muito de dançar ao colo). Uma autêntica vivência multicultural.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

SEREIAS

 









Numa escola junto ao mar, as crianças em Jardim de Infância debatem a existência de sereias. E operam raciocínios lógicos, que se materializam em argumentos dedutivos: " As sereias existem nas histórias. As sereias são reais porque as pessoas é que fazem as histórias. Se as pessoas são reais, as sereias também são." (B, 5 anos); Ou induzindo que "As sereias não existem porque eu nunca vi."(M, 5 anos); Ou ainda invocando o princípio da dúvida, ou da evidência: "Eu não tenho a certeza se existem, porque eu nunca vi, nunca fui mesmo lá ao fundo do mar." (J, 5 anos).
Deste diálogo ficaram algumas questões, algumas delas indicando itinerários: "só existe o que eu consigo ver? Como podemos saber? Será que podemos ir à praia ver melhor?"

cinema, autonomia, diálogo e escrita

  Ainda no modo de Filosofia com Cinema para Crianças (FcCpC) em jardim de infância, crianças de quatro e cinco anos experimentam a sua pri...